Estiagem revela tesouro escondido sob as águas

por André Candreva publicado 26/03/2018 20h28, última modificação 26/03/2018 20h28

 

Fonte: Fatoreal

 

 

Um fato mobilizou as redes sociais esta semana despertando o debate acalorado em torno da história da região. Um mosteiro ou seminário, que ficava submerso num lago, virou atração turística para moradores. Devido à baixa das águas do lago artificial comumente chamado de Lago soledade, em Ouro Branco, algo veio à tona e pegou a comunidade de surpresa ao revelar um enorme tesouro escondido sob suas águas, encoberto pela na ocasião da construção de uma enorme barragem.

 

Surgiram diversas versões e vídeos e fotos da antiga obra. A primeira vista parecia um convento. Para uns da Ordem das Carmelitas dos Pés Descalços. 

 

A grande estiagem e queda no nível da água no Lago da Soledade revelou um tesouro escondido. Cercado de mistérios e lendas, a Casa de Campo, do antigo seminário dos padres redentoristas de Congonhas, foi submersa para a construção do lago para a construção da Açominas na década de 80. A descoberta virou atração turística e chamou a atenção de curiosos e historiadores da região

 

Fomos procurar informações e por diversas fontes conseguimos obter a afirmação que trata-se da Casa de Campo do Seminário Redentorista de Congonhas, construída em meados do século passado e invadido pela água da barragem em 1976, quando da construção da represa da Açominas nos municípios de Ouro Branco e Congonhas.

 

Era uma construção em estilo moderno, paredes fartas em tijolo de adobe, telhado em madeira de lei com telhas no estilho francês, continha dois andares repleto de quartos de hospedagem onde servia aos seminaristas que vinham passar férias e fazer suas contemplações religiosas junto à bucólica vila conhecida como Comunidade da Zia no distrito de Miguel Burnier, que também foi inteiramente encoberta pelas águas da barragem do soledade. 

 

As lendas não são poucas e a história contada pelos moradores diz respeito ao um padre que ronda a noite trajando vestes pretas assustando as pessoas. Esse padre não aceitando que tal barragem fosse construída naquele local resolveu resistir às autoridades da época e permaneceu na sua igrejinha. Ele não conseguiu reverter a construção do lago e até hoje as pessoas que prestam serviço na região dão testemunho da aparição do dito frade depois da meia noite. Muitos destes relatos eram de funcionários da Gerdau, proprietário do Lago Soledade. Há ainda relatos de alguns historiadores locais de que lá havia dois campos de futebol, uma piscina, uma capela e nos fundo da Casa de Campo passava um ribeirão. Esse córrego atravessava um sulco profundo cavado por ele entre as pedras de calcário existentes por lá – tinha o nome de garganta ou funil.

 

Tudo isso, atualmente, fica debaixo d’água da represa feita pela Açominas para captação de água industrial. Ou ficava… Completando essa paisagem de raríssima beleza, aparece ao fundo a majestosa serra de Ouro Branco, marco do início da cadeia do espinhaço e que aos poucos vai sendo tomado pela extração do mineiro de ferro abundante na região. Nos relados de historiadores e populares vizinhos, nos dão conta da existência de cavernas por detrás da serra com enormes salões apontando para uma beleza equiparada às grutas da Lapinha e Maquiné. 

 

História

 

A Casa de Campo pertencia aos Padres Redentoristas de Congonhas, na época de 1922 a 1972. Na década de 30 eles ficavam em um casarão emprestado, onde usava como casa de campo e essa casa ficava na entrada de Miguel Burnier quase paralelo com a ferrovia. Mas os padres ficavam incomodados pela propriedade não ser deles, Então ganharam um terreno aos pés da Serra do Ouro Branco de um rico coronel aposentando do Rio de Janeiro que era o dono do local onde ele explorava a região colhendo a casca do Barbatimão (era usada à época pela indústria para curtir couro). Esse coronel fez uma doação de aproximadamente 10 hectares de terra aos Padres Redentoristas de Congonhas para que eles construíssem uma Casa de Campo para os seminaristas.

 

A casa começou a ser construída em 1945 e frequentada em 1947, mas a conclusão aconteceu em 1950. Nessa data ainda não existia a capela. A casa tinha dois andares, na parte de baixo funcionava como refeitório, salão de recreio e capela. A capela foi feita pelos próprios seminaristas durante as férias e foi concluída em 21 de abril de 1960.

 

Em cima era o dormitório e o quarto do diretor. A Casa de Campo era frequentada em três períodos por ano, divididas em duas turmas: os Juvenatos e os Junioratos. Turmas de 80 alunos chegando a ter 120 a 150 durante o encontro nas 3 férias anuais. O resto do ano a casa ficava vazia, apenas vigiada por um zelador chamado Moisés, a sua esposa a Dona Chiquinha e seus filhos.

 

Na área da Casa de Campo existia uma piscina, um campo de futebol, um de vôlei (um roçado onde eles jogavam) e um pequeno pomar. No território existia a casa do Moisés e uma casa que ficava abaixo, a casa da Senhora Sargilina e seus três filhos o Zé Calando, a Chiquita e a Maria. Mas em baixo corria um rio que colhia todas as águas da serra, totalmente cristalinas.

 

Em 1972 quando o Seminário dos Redentoristas fechou em Congonhas a Casa de Campo foi vendida a um grupo de interessados de Belo Horizonte que queria fazer do local um hotel, mas o imóvel foi desapropriado logo em seguida para a construção da Açominas. Em 1976 o local foi totalmente submerso ficando com uma profundidade de aproximadamente 40 a 50 metros.